Então,
Essa é uma tentativa de usar o texto como forma de entender o que estou fazendo praticamente. Vou tentar aqui organizar de algum jeito as vagas coisas que passeiam pelo meu processo e que estão começado a gerar algumas formas provisórias e iniciais. Vou tentar ser didático e o mais simples possível, numa tentativa mesmo de ser preciso, duro, pra ver se consigo chegar a algumas coisas concretas que talvez não vão dar conta das complexidades, mas que podem ser diretas e claras. Acho que isso pode me ajudar. Vamos lá:
A partir da idéia de seguirmos uns dias sozinhos investigando criaturas/personagens que propusessem uma relação sensorial bizarramente específica, fui pensar em motes criativos que fossem interessantes pra mim. Que tipo de sensorialidade específica me interessava, qual sensorialidade eu poderia me propor a trabalhar, ou uma sensorialidade que viria a partir do quê? No consegui responder. Daí mudei a pergunta: qual sensorialidade bizarramente específica consigo descobrir a partir de algum desejo estético que tenho?
Essa escolha de mudar a pergunta vem muito do tempo de trabalho, tivemos 4 dias de trabalho sozinhos para depois apresentarmos entre nós os lugares em que chegamos. Não conseguia mesmo responder diretamente a primeira pergunta. Usei esta mudança como estratégia de ir em frente pra otimizar o tempo.
Tá, decidi então usar um material com ponto de partida criativo: as luzinhas coloridas de natal. Faz tempo que elas me chamam atenção e que tenho um desejo de testar coisas com elas, me interessa o que elas propõe como movimento, o colorido meio brega e meio infantil, a idéia de algo que pulsa...
Minha idéia era de partir da relação do material com meu corpo e tentar descobrir uma sensorialidade bizarramente específica. Testei várias coisas: luzinhas na cabeça, no pé, no braço, na mão, espalhadas, como rabo... No primeiro dia o que mais me chamou atenção foi a possibilidade de usá-las ligadas a idéia de corrente sanguínea. Seria um coração de luzinhas que se espalharia pelo corpo com veias luminosas. Seria um menino com veias luminosas que partem de um coração de luzinhas. Isso implicaria em ele sempre estar ligado na tomada e isso poderia gerar coisas interessantes.
Pra por em prática essa idéia fui atras de algo que pudesse ser minha segunda pele. Primeira idéia: meia calça. Me vestiria inteiro de meia calça e colocaria as luzes em baixo dela, pra dar uma idéia de algo interno.
Quando testei isso não me senti satisfeito por duas coisas. Senti que essa ideia simples dele ser ligado na tomada era simples de mais e me permitia poucas possibilidades de avanço e as luzinhas em baixo da meia nao ficavam parendo internas e sei lá tava feio.
Foi quando achei o saco de fibra branca, tipo pelúcia, no cafofo. Daí já quase mudei tudo e me transformei num garoto pelúcia, mas pensei na pelúcia como alguma possibilidade de infiltrar as luzes no meu corpo.
Consegui algumas coisas. Funcionava pra mim por exemplo o tórax de pelúcia com o coração de luzinha. Eu podia brir meu peito e pegar o coração lá de dentro. Tirar o coracao de luz pra fora e isso dava mesmo uma ideia de interno, de orgao, de orgao que pulsa e isso funcionava pra mim.
Mas e as veias??? Foi aí que pensei em um outro membro, que a meia cheia de pelúcia podia formar um membro extra luminoso, e que lá as luzinhas poderia sair de dentro, vir de dentro deste "membro". E testei.
No fim das contas essas pernas de meias luminosas foram parar na cabeca e se hoje penso nelas como antenas/orelhas.
Como tinha que mostrar algo pras pessoas que fosse um evento com começo e fim, queria incluir tudo isso que fiz pra poder dividir com eles, por tudo isso num evento. Pra isso, testei um corpo que seria um corpo coberto de meia da cabeça aos pés, por baixo da meia uma camiseta, calça e tênis, por baixo da camiseta pelúcia, por baixo da pelúcia um coração de luzinhas (quando falo coração de luzinhas me refiro a um fio de luzinhas de natal enroladas em um bolo de luzes) e saindo da cabeça as duas antenas luminosas.
Quando decidi por este corpo pra testar, no último dos 4 dias de trabalho, percebi que com o corpo todo de meia ele ganha um deslisamento super bacana, ele deslisa pelo chão, ele escorrega, e foi por aí que testei um deslocamento pra ele, que borra a idéia de verticalidade, quase tudo é no chão, nao fico em pé, assim tira um pouco dos parâmetros do espaço (algo que também buscavamos).
Olhando pra esse corpo lembrei um pouco de imagens que me interessavam junto com as referências do burton, algo meio bicho de pelúcia mesmo, que carrega a idéia de ingenuidade ao mesmo tempo que traz um trágico, vou por aqui algums destas imagens:
São imagens do trabalho de Patricia Waller, artista que faz trabalhos em crochê.
Entao, no fim, ficou tudo junto numa idéia de um corpo de um boneco, um ser, uma criatura que se move escorregando, que tem antenas luminosas e um coração de luzinhas. Minhas solucao para o evento foi:
Entrar com o bicho se movendo pelo espaço pesquisando o território com as antenas (ligadas), achar um lugar para ficar, ver que seu peito estava rasgado com pelúcia saindo, pegar uma agulha com um fio e começar a costurar o rasgo. Até que numa colocada da agulha ele atinge o coração e, por isso, o coração acende. Então ele enfia a mão dentro do peito e tira o coração machucado pra fora. esse coração ainda pulsa fora do corpo até a hora em que se apaga, quando as luzes das antenas também se apagam. Morre.
As pequenas demonstrações do que fizemos foram bem bacanas, geraram um otimismo porque não sabiamos direito o que os outros estavam fazendo e quando vimos ficamos animados. Mas a partir do que mostrei, já tenho muitas questões a serem pensadas:
Qual é a sensorialidade bizarrmente especifica desse corpo? A luz? O escorregar? A pelúcia?O todo? Qual todo? Qual é o problema desse ser? Qua é a questo que dificulta sua existencia? Ou como essa sensorialidade bizzarra cria uma relacao especial com o mundo? Como esse ser manifesta humanidade? Como ele nao vira um ser alegórico? Será que todas estas escolhas que foram unidas nao tem que ser separadas em vários seres mis simples? Qual é o só que deste ser? Como definí-lo?
Este post tinha a função de organizar as questões, não sei a resposta de nenhuma ainda, mas tendo as questões significa que um caminho já foi andado.
Tentei assim manter quem tá longe mais por dentro que tô fazendo, e usei esta oportunidade pra tentar organizar pra mim também o que estou fazendo e começar a trabalhar de novo.
É isso gente..
Quem tiver algo pra comentar, por favor...
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